HABILIDADES PRODUTIVAS EM LÍNGUAS ESTRANGEIRAS
Palavras-chave:
Escrita, Fala, Habilidades produtivas, Metodologias ativasResumo
Este relato visa discutir o ensino de habilidades produtivas – escrita e fala – nas aulas de língua estrangeira da rede pública de ensino no Brasil, onde tradicionalmente o foco tem sido a leitura, especialmente devido à preparação para exames de vestibular. O relato propõe um projeto que integra as quatro competências linguísticas (leitura, escrita, escuta e fala), com ênfase nas habilidades produtivas. A proposta foi implementada pela professora Jaqueline Rodrigues dos Santos durante a pandemia. O trabalho envolveu o uso de material autêntico sobre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), permitindo que os alunos da Etec de São Paulo explorassem temas globais e os apresentassem em inglês. O principal objetivo foi promover a comunicação em inglês por meio de seminários sobre os ODS, incentivando o protagonismo discente e a colaboração entre alunos com diferentes níveis de proficiência. O referencial teórico é apoiado nos estudos de Marcuschi (2008), que destaca a linguagem como um instrumento social moldado pelo contexto comunicativo. Moran e Bacich (2018) também fazem parte do referencial consultado no que se refere à aprendizagem ativa e trabalho com projetos. Por conseguinte, o projeto se alinha à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que preconiza o desenvolvimento de competências comunicativas e socioemocionais. A aprendizagem baseada em projetos e a apresentação de seminários constituem as metodologias ativas utilizadas. Tais metodologias permitiram aos alunos maior autonomia ao selecionar materiais de apoio e conduzir pesquisas, com suporte contínuo da professora. O projeto foi organizado de forma que os discentes se apropriassem do tema, desenvolvendo competências de leitura e escuta para, em seguida, produzir apresentações orais e escritas em língua estrangeira. A professora, no papel de mediadora, facilitou o processo de ensino-aprendizagem, todavia, os alunos tiveram o protagonismo conduzindo suas próprias pesquisas e apresentações com autonomia e organização. O projeto foi desenvolvido em grupos de dois ou três alunos, que escolheram um dos 17 ODS para estudo. As atividades foram divididas em etapas, começando pela introdução às estratégias de leitura, seguidas de pesquisas sobre os objetivos da ONU e discussões em sala de aula. A escuta e a fala foram praticadas durante as apresentações orais dos alunos, que expuseram suas conclusões em língua inglesa. Apesar do ensino remoto, o projeto foi bem-sucedido graças ao uso de tecnologias digitais, como o site oficial da ONU, vídeos institucionais e ferramentas de apoio à pronúncia. A escolha de um tema global e atual, como os ODS, não apenas desenvolveu as habilidades linguísticas dos estudantes, mas também promoveu a conscientização sobre problemas globais, incentivando a reflexão crítica e a empatia, elementos fundamentais para a formação de cidadãos globais. Os resultados indicam que o projeto teve um impacto positivo no desenvolvimento das competências linguísticas e socioemocionais dos alunos. A contextualização dos temas permitiu que eles se sentissem parte do processo, aumentando a motivação e o engajamento nas atividades. Os estudantes foram capazes de aplicar as estratégias de leitura em materiais autênticos e de produzir conteúdo oral e escrito em inglês de forma significativa. Ainda assim, algumas dificuldades foram encontradas, principalmente em relação às turmas, devido à sua numerosidade e heterogeneidade. A diferença de níveis de proficiência também foi um desafio, uma vez que alunos com maior domínio da língua tendiam a liderar as atividades, enquanto os menos proficientes enfrentavam dificuldades. Para mitigar esse problema, o projeto foi planejado com objetivos realistas, permitindo que cada aluno contribuísse dentro de suas capacidades em grupos propositalmente heterogêneos. O engajamento dos alunos em relação ao tema escolhido foi essencial no processo. Desse modo, os alunos de nível avançado auxiliavam os colegas de nível básico uma vez que todos estavam interessados na realização do projeto. Embora o projeto tenha sido adaptado ao ensino remoto, o desafio de garantir a participação efetiva de todos os alunos em um ambiente virtual foi significativo. Ainda assim, a divisão clara das etapas e a constante retomada dos objetivos pela professora ajudaram a manter o foco e a coesão entre os grupos. Este estudo reforça a importância do planejamento detalhado e da flexibilidade no ensino de línguas estrangeiras, especialmente em turmas heterogêneas. A metodologia ativa utilizada no projeto, com ênfase no protagonismo discente, mostrou-se eficaz para o desenvolvimento das habilidades produtivas, mas exige um esforço considerável por parte do professor nos processos de planejamento, acompanhamento e organização das atividades. O uso de materiais acessíveis, autênticos e relevantes para a realidade dos alunos, com o tema dos ODS, também foi um fator crucial para o sucesso do projeto, tornando o aprendizado mais significativo e motivador. O papel do professor como mediador foi fundamental para o desenvolvimento do projeto, proporcionando aos alunos os recursos e o suporte necessários para que pudessem explorar e comunicar suas ideias. A avaliação foi contínua, focando tanto no processo quanto no produto, o que permitiu um acompanhamento mais detalhado do progresso de cada aluno. A escolha de um tema global, interdisciplinar e de relevância social, como os ODS, trouxe à tona questões importantes para a formação dos alunos como cidadãos conscientes, capazes de entender e agir sobre os desafios enfrentados pela sociedade contemporânea. Além disso, o uso de diferentes gêneros textuais e midiáticos, como vídeos, podcasts e textos informativos, possibilitou que os alunos desenvolvessem múltiplas habilidades de forma integrada. O projeto com os 17 ODS da ONU demonstrou que é possível trabalhar de maneira eficaz as habilidades produtivas em turmas heterogêneas, desde que haja um planejamento cuidadoso e o uso de metodologias ativas. A prática pedagógica deve se basear em temas relevantes e significativos para os alunos, utilizando a língua estrangeira como ferramenta para a comunicação e o desenvolvimento de competências socioemocionais. O presente projeto mostra que o ensino de línguas estrangeiras pode ir além da simples preparação para exames e vestibulares, proporcionando aos alunos oportunidades de reflexão crítica e interação com o mundo ao seu redor. A prática comunicativa, aliada a temas globais, tem o potencial de formar indivíduos mais conscientes, colaborativos e empáticos, capazes de atuar de forma ativa em uma sociedade cada vez mais conectada.
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